Desde que entraram em greve, no começo do mês de junho, os estudantes de Letras da Universidade de São Paulo optaram por não retirar cadeiras das salas de aula, nem mesmo fazer piquetes na frente do prédio.
  Essa decisão consensual no meio estudantil tinha por objetivo zelar pelo diálogo e convencimento entre as partes, portanto, sempre que uma aula começava, um grupo era formado para informar os colegas de curso sobre as decisões das assembléias (tanto de estudantes como de professores e funcionários), esclarecer dúvidas e convencê-los a aderir ao movimento. 
 No dia oito de junho, um professor, Gabriel Antunes de Araujo, impediu um grupo de estudantes de levar essas informações aos seus alunos. As turmas deste professor eram as únicas, no curso de Letras, a se manterem completamente lotadas durante a greve. Ao final dessa aula, uma aluna do professor encaminhou-se à assembléia dos estudantes da Letras que acontecia na entrada principal do prédio e deu informe de que o professor teria a prática de, talvez para impedi-los de aderir ao movimento grevista, informar aos alunos que ele não estava em greve, não aderiria a ela e seus alunos que o fizessem correriam o risco de ser reprovados ou por acúmulo de
 faltas ou por perda de avaliações. Foi decisão unânime da assembléia que a atitude do professor poderia configurar assédio moral, já que alunos seus estavam sendo impedidos de decidir por si próprios, como informara esta estudante, se adeririam ou não à greve já deflagrada pelos três setores (professores, estudantes e funcionários). A assembléia decidiu, então, de forma conjunta, encaminhar-se até a sala onde o professor estava, sem piquete físico do lado de fora, mas com piquete moral do lado de dentro, e garantir que seus representados estudantes fossem informados, esclarecidos e tivessem o
 direito de decidir por si próprios se queriam continuar dentro aquela sala ou sair dela, sem nenhuma pressão ou assédio moral. 
 Assim que os primeiros estudantes entraram na sala, o professor doutor
 Gabriel Antunes de Araújo correu em direção a eles, deu um salto e socou com os dois punhos o peito de um ingressante do primeiro
 semestre do curso, empurrando-o para trás. Em seguida, o professor saltou à porta, bateu-a com força contra os demais estudantes que entravam e tentou mantê-la fechada à força, colocando um dos pés para trás, para ter mais apoio, danificando a maçaneta da porta. Percebendo o ridículo da situação, o professor recuou, foi até sua mesa, sacou seu aparelho de telefone celular e começou a fotografar o rosto dos estudantes da assembléia. Percebendo a movimentação, outros professores que passavam pelos corredores tentaram acalmar os ânimos tanto do professor quanto dos estudantes, propondo que ali se estabelecesse o diálogo. A partir daí, Gabriel Araujo passou a dizer,
 ainda em estado alterado, que nenhum estudante estaria coagido a assistir suas aulas. "Não recebo por cabeça, portanto é até melhor que eu tenha menos alunos na sala de aula", disse provocativamente o professor. Disse isso tudo não sem dirigir, de forma lamentável para um professor da universidade mais respeitada do país, palavras de baixo calão a um dos diretores do CAELL, o centro acadêmico dos
 estudantes do curso de Letras da USP. 
 Este mesmo professor, semanas antes, entrara em conflito com o movimento estudantil, quando, segundo relatos, haveria agredido verbalmente uma aluna em uma paralisação. Na ocasião os estudantes decidiram fechar uma das entradas do prédio e deixar a outra aberta. Araujo, para espanto de todos, teria olhado de forma provocativa aos manifestantes e começado a empurrar agressivamente mesa e cadeira que ali estavam para cima de uma aluna, em uma tentativa brusca de forçar passagem. Intimidada, nossa colega retirou-se rumo à biblioteca. Tivemos relatos de que ele a teria seguido e apontado o dedo, de forma ameaçadora. Segundo outras pessoas, que ouviam mas não
 viam o incidente, ele estaria "berrando que nem um maluco". 
 Esse mesmo professor teria caracterizado diversas vezes, em sala de aula e fora dela, o movimento de estudantes, professores e funcionários de maneira pejorativa e caluniosa. Segundo alunos matriculados nesse semestre, nas duas matérias lecionadas por ele, desde que a greve começou, o docente teria cobrado presença dos alunos, marcado prova e avisado por e-mail que o conteúdo da mesma seria dado durante o período de greve. 
 São, no mínimo, insensatas as posições deste professor, cuja contratação pela USP só foi possível graças ao longo movimento grevista de 2002, que conquistou a maior contratação de professores da história da Faculdade. Entretanto, deixamos de nos surpreender, quando passamos a saber que, publicamente, Gabriel Antunes de Araujo é partidário de João Grandino Rodas, o membro do CO responsável pela relatoria da resolução que autoriza a entrada da PM na universidade. 
 Após todos os incidentes relatados acima, mostrando e confirmando que não cederia ao diálogo de forma alguma - diálogo tão prezado e necessário em uma universidade, local onde as divergências e o debate são tão imprescindíveis quanto dispensáveis são a truculência, a força física, a ameaça moral e policial -, o professor resolveu continuar suas aulas no prédio da Química, para onde convocou seus alunos. 
 Todos estes fatos aqui relatados foram colhidos de inúmeras testemunhas que assistiram, estupefatas, ao rol de arroubos cênicos descontrolados do professor. Caso algum departamento, a Congregação ou outra parte qualquer considere necessário, nós podemos convocar essas testemunhas para relatar pessoalmente cada um desses lamentáveis acontecimentos protagonizados por um professor tão respeitado por sua produção acadêmica, mas tão relapso em
 respeito à democracia e ao debate de idéias, um fundamento indispensável, para a produção de conhecimento na universidade. 
 Estudantes do curso de Letras da USP: 
 Amanda de Moraes Brito
 Ana Beatriz da Costa Moreira
 Ana Cláudia Borguin
 Antônio Fernandes Góes Neto
 Arielli Tavares Moreira
 Beatriz Cyrineo Pereira
 Carolina Solano Carrion
 Diego Navarro
 Diogo Moraes Leite
 Edilson da Silva Cruz
 Emi Asakura
 Erika Pires
 Estevão Pascole
 Fernando Bustamante
 Fernando Peres Penteado
 Francisco Cabral
 Gabriela Hipólito
 Guilherme Augusto de Assis Rodrigues
 Gustavo Diniz de Faria
 Ícaro Francesconi Gatti
 Isadora Rebello
 Ísis Liberato Martins
 Ivan Antunes
 João Paulo de Cária Silva
 José Eduardo de Souza Góes
 José Quibao Neto
 Julia de Almeida
 Juliana Lopes Miasso
 Kraly de Castella
 Lucas George
 Leandro Paixão
 Luciana Placucci Vizzoto
 Luiz Henrique Vieira Lins
 Maria Júlia Alves Garcia Montero
 Marcilia Barros Brito
 Marina Almeida Nascimento
 Micael Cimet Dattoli
 Michel de Castro Sousa
 Milena de Moura Barba
 Natalya Amaral Stabile
 Nathalia Canale Guerra
 Oriana Harumi de Lima Tanaka
 Pablo Angyalossy Alfonso
 Paula Aparecida Carvalho
 Pedro Ribeiro
 Peter Mac Hamilton
 Raiana Araujo
 Rafael de Almeida Padial
 Rafael Zanvettor
 Renata Alves da Silva
 Ricardo Maciel
 Sâmia de Souza Bomfim
 Simone Oliveira
 Suelen A Pereira
 Taila Virgine Costa
 Tatiana Castro
 Thais França Freire
 Vanessa Couto da Silva
 Vinícius de Lima Zaparoli
 Vitor Mortara 
 Solidariamente, estudantes de outros cursos da USP: 
 Gabriela Iglesias - Ciências Sociais
 Luana Cordeiro Cardoso - Ciências Sociais
 Ludmila Facella - Artes Cênicas
 Amanda Freire de Sousa - Filosofia 
 Solidariamente: 
 Diego Vilanova, professor da rede estadual
 Maicon Alves de Miranda, empresário
 Maria Estela Veneziane, estudante de Psicologia da Unicsul
 Teila Cristina Veneziane, psicóloga
 Ana Cristina Oliveira da Silva, professora de História, Recife/PE
 Rosa Guadalupe Soares Udaeta, historiadora 
 As seguintes entidades e órgãos representativos: 
 Gestão Ver Com Olhos Livres, do CAELL
 Comando de Greve dos Estudantes da Letras USP
 Assembléia do curso de Letras